A ENTREVISTA
CAP1
Michael pegou as malas e subiu os degraus de sua linda mansão em Encino, Los Angeles.
As portas da frente foram abertas antes mesmo que ele pegasse as chaves no bolso da calça.
-Boa tarde, Sr Michael. Bem vindo de volta.
Recebi boas vindas, pelo menos, pensou ele. Estava um rebuliço total na casa. A terceira babá que ele havia contratado em poucos meses pedira demissão. Mais uma, pensou ele. Além disso, uma jornalista e um cinegrafista chegariam em menos de uma hora para começar a filmar um documentário sobre a vida dele, o que já estava agendado há mais de um mês. As filmagens durariam o final de semana todo.
-Santos... –perguntou Michael a seu ex-chef, que vinha trabalhando como ajudante dele há anos e lhe ofereceu um grande sorriso ao vê-lo entrar no espaçoso hall da casa.- Mas o que aconteceu desta vez para a babá querer ir embora?
-Estão começando a nascer os dentes da pequena Paris.-respondeu Santos. – A babá está reclamando que não consegue dormir há dias.
-Michael passou a mão no cabelo.
-Onde ela está?
-Ela está arrumando as coisas para ir embora. -respondeu Santos.
-Você conseguiu alguém para ficar no lugar dela?
-Eu tentei. Mas, infelizmente, a agência respondeu que só terá alguém com a qualificação necessária na semana que vem.
-Droga! –O xingamento escapou como um desabafo.
Santos ergueu uma das sobrancelhas.
-Sinto-me como o Sr, pode acreditar.
Ele daria um jeito naquilo. Teria que dar. Não havia outra alternativa.
-Maria? – a faxineira trabalhava lá cinco dias por semana, mas sempre ia embora às cinco horas da tarde, para cuidar da sua família, que era bem grande.
-Ela garantiu que vai fazer hora extra para nos ajudar com Paris.
Hora de fazer a barba, tomar banho, vestir-se e jantar antes de receber a equipe de filmagem. Mas primeiro ele precisava ver a sua filha e despedir-se da babà que estava indo embora.
Ele deu um sorriso irônico. Deus! A última coisa que tinha vontade de fazer depois de uma viagem internacional era dar entrevistas a imprensa.
Onde ele estava com a cabeça quando aceitou fazer este documentário sobre seu perfil pessoal?
Ele viu a babá descendo as escadas ao pisar no primeiro degrau, então, parou e esperou que ela chegasse até onde ele estava.
Ela era muito, muito jovem, pensou ele a olhar seus traços.
-Será que um aumento faria com que você ficasse mais um pouco, pelo menos até que encontrássemos alguém para ficar em seu lugar?
-Não, desculpe-me.
-Santos chamará um taxi para você e eu mandarei o seu pagamento para a agência.
-Tudo bem, obrigada.
Michael virou-se e continuou a subir as escadas.
O volume do choro de sua filha aumentava à medida que ele subia os degraus. Pôs a mão apertada sobre o peito ao entrar no quarto.
O rostinho pequeno e delicado estava vermelho de tanto chorar. O cabelinho loiro, úmido do esforço feito. E o que era pior: ela havia sujado a fralda e suas pernas agitavam-se em protesto.
-Pelo amor de Deus.
A leve exclamação do pai provocou um segundo de silêncio, seguido imediatamente por um choro ainda maior que logo se dissolveu em soluços.
-Shh, pequenina- sussurrou ele, levantando-a do berço e embalando-a em seus braços carinhosamente.
Com movimentos habilidosos, tentava acaLmar aqueles olhos verdes inundados em lágrimas.
Ela era sem dúvida filha de sua ex-mulher. Uma mulher que conseguiu o que queria, pensou ele, deixando de usar propositadamente preservativo para engravidar dele.
Mas Michael não conseguia acreditar que o único objetivo dessa gravidez era tirar dinheiro e uma pensão alimentícia dele. Como ela pôde ter feito isso. Perguntava-se frequentemente.
O pequeno bebê em seus braços choramingou e mordeu o próprio punho.
-Está com fome, minha pequena?- as necessidades dela eram mais importantes que as dele.. Ele abriu o armário, depois a pequena geladeira do quarto e achou vários potinhos coma a comida pronta de Paris.
Bastava ficar um minuto no microondas e estava pronto.
Ele se sentou na cadeira de balanço e começou a alimentar sua filha, que parecia desesperada de fome.
-Precisa de ajuda?
Michael olhou para Santos, ergueu a sobrancelha apenas com um cinismo silencioso e disparou:
-O que você sugere?
Os dois conheciam-se a muito tempo e tinham uma relação de confiança incondicional. Era uma amizade, apesar da relação empregado-empregador, de muitos anos, que vinha desde a época que Michael saiu da casa de seus pais, ainda jovem e foi morar sozinho.
Michael olhou para o relógio. Ele tinha quinze minutos para fazer barba, tomar banho e comer alguma coisa. Não era o suficiente, com certeza ele se atrasaria para receber os jornalistas.
-Pode deixar comigo. Eu receberei a equipe da televisão, os levarei até seus quartos e oferecerei uma bebida a eles- afirmou Santos, solícito- Isso lhe dará mais algum tempo para se arrumar.
-Muito obrigado, Santos.
-Muito bem- disse Tony desafivelando o cinto de segurança. -Vamos ao trabalho.
Tony mostrou sua identidade e a carteira de motorista para verificação. Logo depois, os portões se abriram com precisão eletrônica. o carro seguiu por uma trilha cercada por flores e por uma grama aparada e muito bem-cuidada. O jardim era sensacional.
Era sem dúvida, uma bela apresentação da mansão de Michael Jackson, pensou Maggie reprimindo a própria surpresa. A casa era linda. Isso era inegável.
Maggie estava doida para filmar aquele lugar mas, uma das exigências feitas para que ele concordasse em participar do documentário era a de que não filmassem a parte externa da casa. Uma pena, porque a casa era de deixar qualquer um de queixo caído. Os fãs adorariam ver a casa por fora também.
-Onde você acha que eu estaciono?- perguntou Tony, chegando em frente à casa.,
Nesse momento as portas enormes e adornadas de madeira abriram-se e um empregado aproximou-se descendo os degraus.
-Boa tarde. Meu nome é Santos. Se vocês pudessem estacionar na entrada de serviços eu agradeceria. – ele indicou a direção como braço.
Sem dizer mais nada ele voltou a entrar na casa e fechou as portas de madeira da entrada principal.
-Será que ele quis nos colocar em nosso lugar? - brincou Tony dirigindo até o lugar indicado por Santos.
Com as mochilas nas costas, eles seguiram Santos até a sala principal.
-Vou levá-los até os seus aposentos. -informou Santos andando em direção à escadaria.- O Sr Michael Jackson virá recebê-los em quinze minutos.- ele indicou uma porta à esquerda- Por favor, aguardem aqui. Fiquem à vontade, sim?
Só estavam os dois ali, Tony e Maggie, impressionados com a opulência do lugar. Era realmente incrível.
Maggie olhou para o relógio de pulso:
-Onze minutos, acho que dá tempo para desfazer as malas, certo.
-Tudo bem, encontramo-nos em dez minutos.
Dez minutos depois Tony bate na porta da suíte de Maggie:
-Está pronta?
Ela ouviu a voz de Tony. Quando o viu, abriu um sorriso e respondeu.
-Estou sim, vamos?
-Para a direita -disse ele.
Aqui estamos, pensou ela abrindo um sorriso bastante educado e profissional.
Michael Jackson.
Ela já tinha visto fotografias dele nos jornais, revistas, na TV, colunas sociais, lera a sua biografia detalhadamente, mas nada a havia preparado para o impacto de vê-lo assim ao vivo.
E muito menos para a própria reação ao vê-lo.
Ele estava bem vestido com uma calça azul-escura e uma camisa da mesma cor. Bonitos sapatos. E, se ela não estava enganada, um relógio caro levemente escondido pela manga dobrada da camisa.
Tinha cabelos negros, olhos escuros e quase pretos e traços fortes, resquícios de sua origem negra.
E tinha algo a mais que ela não sabia explicar. Um homem que já vira de tudo, um homem experiente que parecia ter desenvolvido uma barreira impermeável contra qualquer tipo de invasão a sua vida particular.
Nervosa ela disse:
-Maggie Collins. -pareceu-lhe uma boa idéia ser a primeira a falar alguma coisa.Ela sorriu olhando para o cinegrafista que estava ao seu lado para que ele também se apresentasse.
-Tony di Marco. Prazer.
Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo quase que prendendo a respiração. Estava tensa.
O calor que começou a circular por suas veias a pegou de surpresa. Ela disfarçou e adotou rapidamente sua expressão profissional habitual.
-Eu gostaria de agradecer a você o convite de ficarmos em sua casa.
Uma sobrancelha ergueu-se confusa.
-Mas foi você mesma quem deu a idéia.
-Mas obrigada por ter concordado- respondeu Maggie educadamente, olhando para o leve sorriso no rosto dele.
-Mas havia algumas condições, está lembrada?-observou ele na mesma hora.
-Claro, e vou respeitar todas elas.
-Por favor, sentem-se. Gostariam de beber alguma coisa? Um drinque, café, chá...
-Café preto, por favor- pediu ela.
-Para mim também, por favor. -disse Tony.
O olhar negro de Michael encontrou o de Maggie e ela inclinou o queixo levemente.
-Vou deixar o drinque para amanhã à noite- brincou ela- Algo me diz que vou precisar.
Será que aquilo era um esboço sutil de um sorriso, ou os cantos da boca dele apenas se alargaram um pouquinho?
-Então você acha que eu vou dar trabalho? Vai ser tão difícil assim fazer a entrevista comigo?
Oh, ele era sensual. Sensual demais. E só estava a três passos de distância dela.
-Será um desafio. É meu trabalho: Fazer um documentário interessante, informativo, que estimule o pensamento dos fãs dando detalhes de sua carreira.
-Trinta minutos na vida de... -disse ele- Editados de uma gravação de vinte e quatro horas?
-Eu gostaria de fazer tudo em doze horas. Mas acho difícil, ou melhor, impossível.
Santos serviu as xícaras de café, colocou o açúcar, entregou-as a eles, enquanto Michael Jackson observava sentado na cadeira em frente aos dois.
-Talvez, Maggie, você pudesse me dar uma visão geral das perguntas que pretende fazer? Que tal?
O som do nome dela nos lábios dele deixou sua pele arrepiada nos lugares mais inusitados. Pelo amor de Deus, pensou ela, tome jeito!
Com o maior controle ela tirou duas folhas de papel de sua pasta e entregou uma a ele. Fez de tudo para esconder que as mãos estavam tremendo um pouco, e graças a Deus saiu-se bem.
-Não... Uma visão geral verbal, Maggie. Só queria que você comentasse por alto mais ou menos o que pretende perguntar.
E a pele dela ficou toda eriçada novamente.
-Você prefere que eu o chame pelo primeiro nome apenas?
-Já que vamos estar juntos pelos próximos dois dias, a informalidade parece-me a melhor escolha, não acha? Assim ficamos todos mais relaxados.
-Deram-lhe uma visão geral de como seria o documentário por escrito antes de você concordar em filmá-lo, acho. -ela moderou as palavras com um sorriso conciliatório. - No entanto, vou lembrá-lo mais ou menos do que se trata.
E foi o que ela fez e com muito profissionalismo.
Quando acabou de falar, ela encarou o olhar atento dele com serenidade.
-Bom, acho que já dei informações suficientes, não é mesmo?
-Já. Por enquanto, sim- ele se pôs de pé com um único movimento. - Se vocês me dão licença... Tenho alguns assuntos a tratar. Por favor, sirvam-se de mais café. Sintam-se à vontade para assistir televisão na sala ao lado. Há vários DVDs ou TV a cabo, se preferirem.-ele inclinou a cabeça na direção de Tony, em seguida olhou para Maggie e disse:-Santos servirá o café da manhã às oito horas.
Ele saiu da sal com a postura de um homem no comando da situação.
Perigoso, pensou Maggie. Definitivamente, um homem muito perigoso
-Você acha que isso nos dá carta- branca?
Tony e seu humor satírico.
-Você deve estar brincando, não é?-Maggie caminhou até onde estava o café. - Quer mais café? Ela se serviu de mais uma xícara, olhando para o cinegrafista.
-Não, obrigado. - ele olhou para o relógio. -Ainda há alguma coisa que você queira ver antes de irmos dormir?
Maggie olhou-o sobre a xícara de café.
-Eu quero que esse trabalho seja consistente- observou ela determinada.
-Mas você só faz trabalhos consistentes, Maggie, não se preocupe.
Então por que será que ela tinha a estranha sensação de quem comandava a entrevista era Michael Jackson, e não ela?
-É melhor dormirmos cedo. -ela precisava estar com uma aparência descansada e com a mente alerta para filmar no dia seguinte. Seu instinto dizia que aquela entrevista seria mais complicado do que imaginava.
Maggie pôs-se a andar e Tony fez o mesmo subindo as escadas ao lado dela.
-A gente se vê no café da manhã- Tony sorriu ao se despedir. - Relaxe, vai dar tudo certo amanhã, durma bem.
Ela sorriu de volta.
Normalmente ela dormia bem, mas naquela noite, seus pensamentos permaneciam fixos em Michael Jackson e em como seria o dia seguinte.
Era impossível não notar o quão lindo ele era. Alto, ombros largos, traços bonitos e aquela boca sensual.
Mas a reação eletrizante que ele provocava nela... O que diabos era aquilo?
continuaaa...